A Cultura não tem cor, sexo, idade, língua, religião, condição social.
Cultura é essencial à dignidade humana
Pawlo Cidade*
Eu não acredito que o BRADESCO, a NISSAN, a
COCA-COLA e uma dezena de outras empresas investem em grandes projetos
culturais apenas porque eles atraem valor à sua marca. Ou ainda porque terão
mais visibilidade e aceitação no mercado. Acredito que eles estão mais
preocupados com um marketing de causa social e assim assumem uma estratégia em
que todos saem ganhando: patrocinador e produtor. Acontece que os grandes
investimentos nunca conseguem chegar na base, sobretudo nos colaboradores que
mantêm a empresa de pé.
Apesar do incentivo financeiro através da renúncia fiscal, muitos projetos chamam de ingresso popular a quantia de R$ 50,00 (cinquenta reais). Valor alto para 79,2% da população brasileira que recebe até três salários mínimos (IBPT,2014).
Cinquenta reais nunca foi, nem nunca será um preço
popular. Preço popular é R$ 10,00 (dez reais) ou R$ 1,00 (um real) – como
acontece no Projeto Domingo no TCA – Teatro Castro Alves, em Salvador. Além do
mais, não basta colocar um preço acessível, é preciso encontrar meios de fazer
com que as pessoas cheguem ao local do evento. É muito comum confundir acesso
com acessibilidade nos projetos culturais. Acesso é a possibilidade de chegar,
a entrada propriamente dita. Já a palavra acessibilidade é a qualidade do que é
acessível, ou seja, é aquilo que tem acesso fácil. Neste caso, o preço do
ingresso.
O não investimento em projetos de pequeno porte no
interior do Estado por empresas grandes como a Coca-Cola ou o Bradesco pode ser
por causa da visibilidade de suas marcas. Pode ser. Acontece, que muitos
produtores não conseguem elaborar projetos convincentes e de grande alcance
social. Além do mais, falta habilidade para propor projetos através de incentivo
fiscal. Se, para quem está vendendo uma proposta é difícil, imagine para quem
está comprando? Que garantias as empresas têm que os recursos serão bem
investidos?
Quando se investe em Cultura, as pessoas começam a
ver as coisas com outros olhos. A Cultura ensina a pensar, a clarear as ideias,
a apontar caminhos, dar prazer, entretém, satisfaz a alma e faz bem ao coração.
Afora o prazer e o entretenimento, investir em Cultura demonstra preocupação da
empresa em perpetuar tradições, em manter viva a história, em valorizar o
local, em reconhecer a comunidade cultural. Quem não quer adquirir um produto
de uma empresa que incentiva e fomenta os artistas e grupos de sua comunidade?
Já pensou se a maior rede bancária do país estampa nos envelopes de depósito a
imagem de um grupo cultural de Ilhéus?
A Cultura não tem cor, sexo, idade, língua,
religião, condição social. Cultura é essencial à dignidade humana, é parte
integrante dos direitos do homem. Investir em Cultura é investir no princípio
da universalidade. É valorizar – como bem expressa o artigo 2º da Declaração
dos Direitos Culturais: “As crenças, as convicções, as línguas, os
conhecimentos e as artes, as tradições, as instituições e os modos de vida
pelos quais uma pessoa ou um grupo de pessoas expressa sua humanidade e os
significados que dá à sua existência e ao seu desenvolvimento”.
*Pawlo
Cidade, Escritor e Consultor de Políticas Públicas de Cultura
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