“CANSEI, MAS NÃO VOU SAIR! ”
Pawlo Cidade*
“Cansei, vou
sair! ” Certamente, você já deve ter dito esta frase alguma vez. E, a partir de
então deixa de frequentar as reuniões do seu clube favorito, da assembleia que
todo mundo fala, fala, fala e não chega a nenhuma conclusão; do conselho que te
elegeram como representante de uma categoria ou dos encontros em que a
individualidade reina soberana no mar dos egos inflamados. Todavia, você, revestido
de esperança, na reunião seguinte volta renovado e abandona o discurso de
despedida descobrindo o que você já sabia: sua missão é seguir em frente,
enfrentar barreiras, transpor muralhas e, ainda assim, mesmo que tudo pareça
perdido, continuar “dando murro em ponta de faca.”
Perdoem-me a
expressão masoquista, porém, é fato que, aqueles que nasceram para lutar, brotam
com espírito aguerrido, encontram forças, assumem sua resiliência e continuam
estendendo a bandeira da Cultura.
Ah! Cultura!
A menina esquecida, relegada a segundo, terceiro, quarto, talvez quinto plano.
A dimensão que nunca é apontada nos planejamentos municipais, a cereja que
insiste em permanecer sobre o bolo. A semente que parece não germinar, sufocada
pelos espinhos afiadíssimos das falácias políticas. O eixo integrador que muitos
setores da sociedade insistem em sufocar.
Ignoram, que
é através da Cultura que se constrói a identidade local, a integração social e
se consolida “uma gestão efetivamente participativa. ” Faltam-lhes compreensão
que tu, ó Cultura, és o eixo que dialoga com todos os outros, que humaniza a
cidade e aproxima as pessoas.
É ciente
destas atribuições e conceitos que faz dos verdadeiros conselheiros municipais
de política cultural guerreiros intrépidos, revestidos do escudo da
coletividade, da couraça da integração, da roda do diálogo, da
descentralização, da política de Estado.
Já se foram
13 anos. Um pouco mais que uma década de construções e reconstruções de instâncias
e instrumentos que engendraram uma política pública de cultura participativa,
com voz e voto, de toda uma comunidade que entende Cultura como direito inalienável,
indispensável e incontestavelmente como gênero de primeira necessidade.
Não serão as
adversidades, as portas na cara, a traição, a dupla representação, a censura no
caráter deliberativo, a ausência da união, as articulações mesquinhas, a política
suja, o vira-folha, a falta de recursos, a negação do espaço que te farão
desistir. “Cansei, mas não vou sair! ” É o grito que ecoa pela manhã, após uma
noite de choro. E assim, de pé, está pronto para mais uma batalha. Precisamos
continuar sendo interlocutores entre o estado e a sociedade civil, devemos nos
reinventar, buscar e criar estratégias de participação em redes, em debates, em
encontros, em assembleias.
Somos conselheiros
de Cultura! Somos impávidos, somos colosso! Nossa representação espelha esta
grandeza. Unidos, seremos mais que vencedores. Juntos, somos imbatíveis. Não desista.
Parafraseando Mahatma Gandhi eu lhe digo: Só o desejo de vencer, já é o
primeiro passo para a vitória; não importa o tamanho de sua batalha. Escreva
mais um capítulo desta história, pense no que você ainda pode fazer. Desistir,
para quê? Para dar a certeza de que seus inimigos estavam certos? Sacode a poeira
das sandálias dos teus pés e segue em frente. Nossa luta está apenas começando.
Criar um Sistema,
estabelecer um Plano, solidificar um Fundo não faz do “CPF da Cultura” um
instrumento pronto e acabado. Nosso maior desafio, nossa maior habilidade será
fazer com que a gestão cultural seja a mais eficiente, a mais eficaz, a mais
legítima, a mais transparente e a mais equânime de uma sociedade que precisa
urgentemente compreender que a Cultura existe para o homem, não o homem para a
Cultura.[1]
*Autor, pesquisador, agentes cultural e conselheiro estadual de cultura.
[1]
Trata-se
aqui de uma paráfrase. O autor faz-se referência ao economista Celso Furtado (1920-2004)
ao afirmar certa vez que: “É velho
lugar-comum, muitas vezes esquecido, afirmar que a economia existe para o
homem, não o homem para a economia.”
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